1.11.12

Sobreviver

Abrem-se portas de aflição, caminhos desencontrados procuram cruzarem-se. vidas desconhecidas, procuram conhecerem-se. sentem-se emoções, vindas de longe. vindas do futuro, dizem. o povo fala, comenta, critica, revolta-se. não existe conclusão de tal embrulhada social. procura-se cura para doenças, procura-se trabalho para desempregados, procura-se dinheiro para pobres, humildade para os ricos. mas sobrevive-se, um dia de cada vez. a maior parte da sociedade vê-se cada vez com mais dificuldades de ultrapassar esta etapa, outra parte, vive aperaltado de luxurias, voando de canto em canto do mundo. ouvem-se gritos de desespero. as pessoas esgotaram-se. mas ninguém desiste, mantêm-se firmes a cada guerra. lutam com todas as armas e ainda são bombardeados com sujeitos indefinidos, que só os afundam mais. vencem pequenas batalhas, que em poucos instantes se tornam novas derrotas. vivem um ziguezague de insatisfações. deixam de ser consumistas, para passarem a ser sobreviventes. mas, a pior das verdades, é a pouca solidariedade que as pessoas têm umas para as outras. parece que depois de tantas derrotas, o povo ainda quer viver pior. não vejo dia nem hora de fim para esta guerra. não encontro saída possível de tal desentendimento social. então espero. não espero que façam tudo por mim, que lutem e se derramem em sangue por mim. apenas encosto-me, para assistir a uma futura realidade. as portas de aflição manter-se-ão abertas, darão continuação a este labirinto instável. vejo ilimitados níveis de pobreza a acontecerem do outro lado do mundo. e aí lembro a sorte que tenho, a sorte que todos os que vivem como eu têm. mesmo com estas derrotas, mesmo com o apertar do tempo, nós temos muita sorte. dou graças por ter nascido deste lado do mundo, e que tudo se mantenha assim pelo menos. a pobreza não é um descuido, a pobreza é falta de viver, é sobreviver.